25/09/2011

Combate ao Tráfico de Pessoas


No ultimo dia 13 de setembro foi realizada em Campo Grande uma plenária livre para consulta pública, visando à elaboração do Segundo Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.  Tive a felicidade de integrar esse colegiado e contribuir para a elaboração de propostas que podem, ao menos, reduzir o crescimento desse câncer que se instalou em nossa sociedade.

Mas o que vem a ser, de fato, Tráfico de Pessoas? Segundo o Protocolo de Palermo – documento internacional que trata desse problema, e que foi assinado por diversos países, inclusive o Brasil – tráfico de pessoas significa o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, para fins de exploração. Essa exploração inclui a exploração da prostituição da vítima ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos. Elenca também nesse rol de atrocidades, qualquer tipo de exploração infantil.

Ler “escravatura” num texto que não seja sobre a história do Brasil é algo surreal, não é mesmo?  Mas se trata de algo tão presente entre nós, que pode estar acontecendo neste instante bem ai na casa do seu vizinho, e você nem se dá conta. Sabe aquela comadre que mantém dentro de casa uma menina de doze anos pra fazer todos os serviços domésticos?  Então, essa comadre é uma criminosa, traficante de pessoas. O assunto ganhou mais projeção na semana passada, quando estourou na mídia nacional o caso dos bolivianos que eram obrigados a trabalhar numa fábrica têxtil em São Paulo, a qual fornecia produtos para a famosa marca Zara. Aquelas pessoas, longe de suas casas, e obrigadas a jornadas extenuantes, sem poder sair de dentro da fábrica, são mais um exemplo de que esse fenômeno grotesco se permeia aos nossos olhos.

Como se não bastasse, Mato Grosso do Sul ainda possui um agravante. Suas fronteiras. Imagine você por onde passaram aqueles bolivianos antes de serem aprisionados na tal fábrica... E foi justamente por sentir a latente vulnerabilidade da sociedade mato-grossense-do-sul é que o nosso Estado se tornou pioneiro no combate ao tráfico de pessoas.

Enquanto o governo federal só foi implementar ações concretas em 2004, com a publicação do Decreto 5.948, que instituiu o Plano Nacional de Enfrentamento ao tráfico de Pessoas (PNETP), aqui no Estado o Comitê de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas de Mato Grosso do Sul ( CETRAP/MS) - órgão constituído pelos entes institucionais de âmbito regional responsáveis pela segurança pública e fomento e fiscalização do trabalho – já estudava o assunto há anos.

A plenária livre da qual participei, e que já faz parte do calendário da CETRAP/MS, se pautou em três temas: prevenção, atenção as vítimas e repressão/responsabilização. Assuntos que, somados, constituem o eixo que da sustentabilidade a esse crime terrível. A conscientização e sensibilização da sociedade por meio da informação, e o apoio às pessoas em estado de vulnerabilidade constituem a prevenção. O amparo as vítimas para que, no futuro, não haja reincidência. E, por fim, reprimir, por meio de punições que façam o traficante reavaliar o custo-benefício de suas práticas criminosas.

Este artigo é em homenagem ao primeiro tema, alertando a todos de que o assunto aqui discutido não está apenas restrito ao desrespeito dos direitos trabalhista ou do estatuto da criança e do adolescente. Muito mais grave do que isso, trata-se de verdadeira violação dos direitos humanos e degradação da dignidade da pessoa humana das vítimas. Não podemos permitir que esses direitos fundamentais, que foram adquiridos a custa de muitas vidas, ceifadas durante a construção da estrada chamada Democracia, sejam agora simplesmente deturpados.

Esteja atento, caro leitor, pois a próxima vítima pode ser alguém da sua família, raptada para ser prostituída em algum lugar longínquo, ou ter os órgãos postos a venda no nefasto mercado negro.

Se souber de algo utilize o serviço Disque Denúncia: 0800 6471 322.


[RH.18.09.11.20:39]

Texto Publicado no jornal Correio do Estado, edição do dia 21/09/11.


imagem: http://www.blogbahiageral.com.br/site/municipios/2012/11/trafico-de-pessoas-juiz-determinou-a-volta-das-criancas-baianas-adotadas-irregularmente-para-os-pais-em-monte-santo