26/05/2013

BICABONATO



As vezes eu queria ser o Cebolinha... é, aquele mesmo da Turma da Mônica. Apesar do complexo que ele deve ter por causa de seu problema de pronúncia errada, nem tudo é desgraça. Certamente ele não teria problemas em saber em qual das “...xítonas” a letra ‘r’ entra nessa maldita palavra bicabonato. Não bastasse ela ser um termo foneticamente horrível - uma junção bizarra de sílabas que não combinam - ainda meteram um ‘r’ pra foder de vez com tudo.

Eu não tenho vergonha nenhuma em dizer que preciso pensar (muito) antes de pronunciar essa coisa esdrúxula – mentira, eu tenho vergonha, sim. Palavrinha ridícula, cara. Pra minha sorte, eu estudei Direito, e bicabonato não esta no rol de palavras do meu cotidiano. Mas imaginem se tivesse feito o curso de Química ou Farmácia... estaria na merda, com certeza.

- diga rápido!
- Bicãbo... não,  bicaborn... não, não, digo... bicarbonato?... isso! é... ah, acho que é isso.

E a vergonha própria (pela burrice) e a alheia (das poucas pessoas que me achavam um cara inteligente) ?  Lamento. Pra minimizar o meu sofrimento desafio você a dizer três vezes, bem rápido: “TRÊS PRATOS DE BICARBONATO PARA TRÊS TIGRES TRISTES”.

Quem sabe agora eu não aprendo de uma vez por todas que o ‘R’ é depois do ‘CA’... BI-CAR-BO-NA-TO. Ou é isso, ou terei que viver sem ele pelo resto da vida. Estou mais inclinado pela segunda opção.

[RH.26.05.2013.18:25]


13/05/2013

“Apoio ao regime democrático tem ligeira queda”





Essa frase é o título de uma reportagem do jornal Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/05/1271563-apoio-ao-regime-democratico-tem-ligeira-queda-aponta-datafolha.shtml), é de uma leviandade tão grotesca que me causa ânsia. Sem dúvidas, a verve do suprassumo do que a há de mais podre.

Ela diz, como se o regime democrático carecesse de apoio, como se fosse uma mera opção que se sustenta sobre as outras apenas por ter, até o momento - talvez por sorte ou bom trabalho publicitário - o apoio de uma maioria que não tem certeza do que quer.

O autor do título, sutilmente, aborda o tema como se não estivesse gravada nas páginas da Constituição Federal do Brasil – chamada de Constituição Cidadã, ou Popular – a sua consolidada e irrevogável implantação perpétua; como se ela corresse o risco de ser, a qualquer momento, deturpada por bárbaros marxistas, ou coberta com tinta cor verde-oliva por militares herdeiros do ranço ditatorial do século XX - que arquitetam secretamente dentro dos paióis um novo golpe, pior que o anterior, pois desta vez regado à vingança.

Diz o título, ainda, que a democracia esta em decadência, pois uma fração já deixou de dar apoio, ela já não é tão forte e não se mostra mais tão útil quanto antes, na opinião desses que mudaram de ideia; que a democracia já foi melhor, e já não é digna de apoio, voltemos ao status quo.

O título trata a democracia como se fosse uma coisa trivial, como se não fosse algo importante para a nação, como se não fizesse diferença nas vidas do brasileiro:

- Democracia? Ah, só pra no dia das eleições ir votar no menos ladrão, ou no que me pagar uma tanqueada de combustível.

E a parte mais triste: um jornal como a Folha publicar tal escarnio – tudo bem, nós sabemos que eles nunca foram confiáveis, mas dessa vez passaram dos limites. Se pensarmos o quanto a imprensa foi achincalhada pela ditadura, inevitável o arrepio cadavérico que só o sentimento de traição é capaz de provocar. Pensar na quantidade de pessoas que morreram para que, trinta anos depois, mercenários disfarçados de jornalistas pudessem escrever isso, só faz aumentar a minha descrença.

Escrevi este texto ouvindo Nome aos Bois, clássico dos Titãs (ouça: http://www.youtube.com/watch?v=mNqig2w5iQ0) que, mais de 20 anos após ter sido escrita, continua atual; e os bois não param de aumentar.

[RH.05.05.2013.22:08]

 Fontes:



09/05/2013

indicação de filme: "Isto Não é Um Filme"



Já estava deitado pronto pra dormir quando, na última zapiada pelos canais da TV, me deparei com este filme - melhor dizendo:  “não filme” - que acabará de iniciar no Telecine Cult. Depois de ler a sinopse não consegui mais desgrudar os olhos.

“Isto não é um Filme” não é apenas um título propositadamente criado para despertar a curiosidade e tudo que ela traz consigo. Na verdade, de fato não é um filme, nem documentário, nem clip, nem uma estória contada... esse registro cinematográfico não se encaixa em nenhum formato que caiba classificação.

O protagonista é Jafar Panahi, cineasta iraniano condenado pelo Estado a - além da prisão -  ficar por 20 anos proibido de  escrever roteiros e dirigir filmes. De dentro de seu apartamento, onde aguarda o resultado do recurso de apelação para tentar reduzir sua pena, ele inicia filmagens precárias registrando sua própria angustia.

Empunhando o roteiro para o último filme que pretendia gravar - e já se vê impedido - ele começa a descrever com maestria as cenas do que seria o filme, quadro a quadro. Para cinéfilos de plantão, uma verdadeira mini aula.

Impressionante como ele consegue retratar a sofrida realidade dos iranianos, utilizando-se de coadjuvantes da vida real - dos quais alguns se quer chegam a aparecer. Tudo retratado apenas da micro atmosfera do condomínio onde mora. 

O “não filme” é de uma delicadeza e sensibilidade única, e faz quem assiste ingerir um montão de sentimentos ruins, todos eles com sabor de indignação.

Indignação por saber do que teocracias são capazes de fazer para manter o povo na absoluta ignorância, pois uma nação que não pensa não questiona, e é bem mais simples e conveniente governar nessas condições.

Engraçado que eu escrevi isso com a mesma pretensão de quem tem convicção de que coisas desse tipo jamais acontecem em outros regimes de governo, né? Quem dera...

Para o Irã, Panahi era uma ameaça, já não é mais.

Quase 02h da madrugada... eu ainda tentava digerir tudo isso.

[RH.09.05.13.23:25]

Leia sobre o caso: http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/justica-iraniana-confirma-condenacao-de-cineasta-a-6-anos-de-prisao/n1597281424503.html

PS: Não encontrei a íntegra do filme, apenas um resumo, mas continuarei tentarei. Quem puder assistir, eu recomendo.

05/05/2013

Não é disso que eu estou falando...



Este texto demorou um bocado pra ser escrito, pois já sou fã deles há muito tempo, e não tem nada relacionado a essa foto ilustrativa, lógico.

Ela é Badi Assad, cantora brasileira de sorriso cativante, voz sedosa, violonista primorosa, única beatbox da MPB, com uma habilidade incrível de produzir sons utilizando apenas o próprio corpo. Acho que nem Hermeto Pascoal conseguiu extrair sons do próprio corpo, e olha que ele extraiu sons de tudo que era possível (e impossível).

Ele, André Abujamra, compositor, multinstrumentista,  cantor e ator, membro de duas das melhores bandas deste país: Os Mulheres Negras e Karnak. Dotado de uma inventividade que permite transformar em arte coisas aparentemente banais e sem valor, como por exemplo o próprio curruculum (http://www.youtube.com/watch?v=4Xul_oCLtxU).

Em comum eles têm a incrível habilidade de produzir universos sonoros que inviabilizam o encaixotamento de suas obras no estilo musical A ou B... Algo semelhante ao que acontece com minha ídolo islandesa,  Bjork. É nítido que eles descartam totalmente os modelos e padrões convencionais, e se arriscam, criando formas, misturando ritmos, batucando as bochechas, experimentando instrumentos...  

Outro aspecto em comum é o fato de terem sido reconhecidos mundialmente por seus trabalhos, e só ganharam algum prestígio no Brasil tempos depois. Aqui na Província em que vivemos é assim, só se valoriza aquilo que os gringos dizem que é bom. E se acham que estou exagerando, perguntem ao David Byrne, que tirou o inigualável Tom Zé - ignorantemente classificado como tropicalista - de mais de 20 anos de ostracismo. Obrigado David!

[rh.05.05.13.21:32]

E vamos ao que interessa, aí vão algumas amostras:

Badi Assad:

André Abujamra: