29/01/2009

Vai mais refresco aí?

Sentir tristeza é bom, faz a gente lembrar que somos tão vulneráveis quanto os outros que sofrem, e rimos deles, alheios, indiferentes. Mas agora eu sou o Fausto da vez, devem estar rindo de mim aos montes.

Meu pai costuma dizer que pimenta nos olhos dos outros é refresco, nunca dei importância pra isso até meus olhos começarem a arder. Não sinto raiva, aceito tudo como quem confessa um crime, mereço passar por isso.

Auto-piedade!? nunca foi meu forte, lamentações só servem pra oferecer mais refresco a platéia. Cada um sabe qual é a pimenta que lhe arde mais, no meu caso, ela tem nome, endereço e telefone.

O superego, a essa altura, grita desesperadamente, berra ao pé do ouvido:
- VINGANÇAA!!!!! Vamos fazê-lo sofrer também, vamos mostrar pra ele!!!

Mas não, já sou um homo sapiens bem crescidinho, essas coisas instintivas deixo pros meus ancestrais, eles ao menos tinham porretes e podiam usá-los sem problema.

Além do mais, a dor volta cedo ou tarde, no dia seguinte, quando ouço aquela musica, quando vejo alguém rindo, ela é como uma sombra inconveniente atrapalhando minha visão, cheiro de cigarro grudado no cabelo.

A noticia boa é que tristeza passa, sai com o tempo, como um dente de leite que cai e quando você menos espera, já não tem mais do que se lamentar.

[Rh.28.01.09.11:23]


imagem: http://www.blogsoestado.com/marciohenrique/2012/07/17/pimenta-nos-olhos-dos-outros-e-refresco/


15/01/2009

Antes isso aqui era só mato!


Qualquer campo-grandense com menos de 30 anos já deve ter ouvido essa frase pelo menos umas mil vezes durante a vida. A urbanização da capital sul-mato-grossense acontece em larga escala e se intensificou nos últimos anos. Lugares em que há pouco tempo só tinham sítios e chácaras onde às galinhas até ousavam ciscar pelas ruas, foram engolidos pelo asfalto, loteamentos e prédios.

A única coisa que pouco mudou foram seus habitantes. A cultura intrinsecamente ruralista, forjada pela tradição agropecuária visceralmente presente em todas as nuances do plexo social é um óbice para a plena percepção e materialização do conceito de urbanização na vida das pessoas.

Em outras palavras, aquela típica mentalidade interiorana, bucólica e despreocupada, presente nas cidades pequenas onde todos se conhecem e tudo é perto (e insuficiente), já não tem mais lugar na realidade em que vivemos. Certamente é uma herança dos tempos em que éramos apenas um feudo do reino Cuiabano.

O crescimento da cidade, consequentemente, impôs um ritmo de vida mais acelerado aos seus habitantes, que, além das longas jornadas de trabalho, ainda precisam enfrentar diuturnamente filas e mais filas a fim de prover o cotidiano com as necessidades mais elementares. Exemplo mais notório disso é o fato de que não se faz mais compras em mercadinhos e mercearias, mas em mega-lojas multinacionais onde se encontra de tudo, até borracharias.

O trânsito, que foi sobrecarregado pela entrada de milhares de novos veículos nos últimos anos, todos eles disputando cada centímetro de asfalto, obrigou o redimensionamento do tráfego para proporcionar mais fluidez e segurança. O aumento do número de veículos arrastou consigo outras estatísticas, tais como o aumento da violência, acidentes e de carros roubados.

A expansão horizontal da cidade tornou o transporte público deficiente e tudo mais distante, desencadeando no surgimento natural de novos centros. A região das Moreninhas é apenas um dos vários exemplos desse fenômeno, que já estão espalhados por todo o perímetro municipal, o qual não para de expandir.

Regiões onde há pouco mais de dez anos eram consideradas sem qualquer valor comercial, algumas delas que até serviam como aterro sanitário, reduto de todo o lixo da cidade, hoje estão em alta no mercado imobiliário, a maioria acomodando luxuosos complexos residenciais.

Em Campo Grande você já pode jogar golfe, aprender mandarim e até terceirizar a organização do seu guarda-roupa ou, o desenvolvimento humano do seu quadro de funcionários, se tiver uma empresa. Quem imaginava ter a chance de poder usufruir dessas coisas até pouco tempo?

Interessante é que de cada cinco pessoas com quem converso pelo menos três delas não nasceram aqui, mas vivem e trabalham neste chão, ironicamente, raros são os nativos desta terra por aqui. Acredito que é graças a essa mistura de pessoas, culturas, diferentes tipos de brasileiros (vindos de toda parte) interagindo é que tem contribuído em demasia para a formação de uma identidade própria do povo campo-grandense.

Hoje as galinhas não ousam mais se aproximar das ruas, onde havia mato agora crescem a urbanização e o campo-grandense tenta, com modesto sucesso, acompanhar o mesmo ritmo.


[rh.15.01.09.00:21]

imagem:https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQ4olBsio9FQ_gI9nUyWRn8r6r_dnjvVEbyU-AGoXqYMsFWMQsaxg

08/01/2009

Críticas Autodestrutivas em Prol do Autor


Há pouco tempo atrás me flagrei lendo os textos que já havia publicado, sim, meus próprios textos, e pior, não apenas lendo, admirando-os (a maioria deles) e sentindo-me orgulhoso dos prestigiosos comentários que se seguiam.


Senti a mesma vergonha que uma criança arteira sente quando é descoberta no silêncio que precede a arte, injustificável, proposital. Repreendido pelo meu adulto, confessei-me culpado e arrependido.


Não cabe ao autor ler ou reler quando o escrito já esta lançado ao mundo. O texto é como um manufaturado de argila, seu artesão, durante o processo criativo, investe suas idéias, que são únicas, moldando , retorcendo, alongando, até que consiga forjar totalmente na massa aquela idéia primária. Depois que a peça sai do forno ela não é mais singular, ela volta a ser maleável, contextualizada, passível de interpretação, estando à mercê da criatividade de todos os olhos que a consumirem.


O texto pós-publicação deixa de ser do autor, passando a ser apenas informação para o leitor formar sua opinião. Não pode o autor tentar extrair algo do texto que ele mesmo criou, consumindo a si próprio para gerar novas idéias.


É preciso abandonar os textos, por maior dor que essa separação provoque, principalmente daqueles cuja dedicação se estende por horas, muitas vezes até dias para ser completado. O afeto e carinho entre criador e criatura é deveras grande e inevitável. O texto é um filho que, como todos os filhos, se cria para o mundo fazer o que quiser dele.


Conformar-me-ei, doravante, em ler apenas os títulos, os textos, todavia, permanecerão incólumes, ilesos a minha leitura autodestrutiva. Pelo menos até que o tempo apague as luzes que nos unem.



[rh.07.01.09.23:58]

ilustração: google imagens.

02/01/2009

TRILOGIA DO ATEÍSMO


O que antes era apenas um texto, tornou-se numa Trilogia do Ateísmo, concebida a custa de horas e mais horas para concatenar em breves linhas de maneira abrangente, todas as minhas convicções que tanta curiosidade traz as pessoas.

Estreando com “Por que você não acredita em Deus?” (a pergunta mais comum) seguido por “...em que você acredita, então?” ( a segunda pergunta mais comum) e, finalizando com “O seu Deus é, realmente, um Deus?” para incendiar as convicções dos menos crédulos, traço numa seqüência lógica e racional todo o aparato argumentativo onde sustento minhas crenças ateístas.

Não sou um estudioso do assunto, e nem é essa minha pretensão, dediquei-me a construção dessa trilogia para meu próprio conforto, pois me custa muito ter de responder a mesma coisa toda vez que essas perguntas são feitas, muitas vezes, nas ocasiões mais impróprias para serem respondidas. Agora, depois de completada a obra, apenas digo pras pessoas acessarem este espaço e lerem o que queriam saber.

[rh.02.01.09.17:57]


imagem: http://rpgmassacre.blogspot.com.br/2012/10/debatendo-ateismo-por-rodolfo-cesar.html

TEXTO 03= “O seu Deus é, realmente, um Deus?”


Por fim, termino eu por perguntar: “O seu Deus é, realmente, um Deus?”

A cada dia tenho mais certeza de que existem muito mais ateus do que as estatísticas afirmam. Digo isso pois converso com diversas pessoas sobre o assunto e, quando pergunto a elas o que é Deus, recebo variadas respostas.

Deus, em suas diversas definições, guarda em si elementos intrinsecamente pertinentes que o caracterizam como tal, tais como: onisciência, onipresença, onipotência, além de ser: juiz infalível, que pune e agracia, fonte de todo o dever moral, detentor de personalidade e humor. Em outras palavras, Deus possui, necessariamente, características humanas, a que se da o nome de Antropomorfismo.

Se você, leitor teísta, não reconhece essas características no Deus em que acredita, saiba que é um ateu em potencial, pois a idéia de Deus implica, obrigatoriamente, no sentimento de temor, respeito e confiança (fé) nas ‘atitudes’ divinas. É preciso ter clara essa distinção, demasiada simples, porem, capaz de abalar as convicções dos desavisados.

Como dito no texto anterior, acredito na Natureza (ou energia vital) que dá origem e fim a tudo, ela se manifesta espontaneamente universo afora. Minhas convicções tem estreitos laços com a Ontologia - parte da Filosofia
que trata da natureza do ser, da realidade, da existência dos entes e das questões metafísicas em geral. A ontologia trata do ser enquanto ser, isto é, do ser concebido como tendo uma natureza comum que é inerente a todos e a cada um dos seres (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ontologia) – todavia, renego a busca cognitiva a que se propõe a Filosofia. Fernando Pessoa (Poeta português, 1888-1935), dentre as muitas coisas que me ensinou ao longo das minhas leituras, mostrou-me que essa busca é em vão.

Em suma, o antropomorfismo esta presente nos Deuses de todas as religiões, e, nessas circunstancias, para se considerar um teísta, um verdadeiro crente em Deus, é preciso aceitar esse fato, caso contrário, seja bem vindo ao clube dos ateus, ou conforte-se nas cômodas e pobres idéias do Agnosticismo.

Afirmo que o Ateísmo, que esta ganhando cada dia mais adeptos, é condição inegável para a construção de uma sociedade melhor. A História mostra que todos os modelos anteriores falharam, a religião sempre foi fonte de manipulação das massas, muitas guerras foram travadas e muitas pessoas mortas em nome de Deus.


[rh.02.01.09.17:37]

imagem: http://rpgmassacre.blogspot.com.br/2012/10/debatendo-ateismo-por-rodolfo-cesar.html