08/01/2009

Críticas Autodestrutivas em Prol do Autor


Há pouco tempo atrás me flagrei lendo os textos que já havia publicado, sim, meus próprios textos, e pior, não apenas lendo, admirando-os (a maioria deles) e sentindo-me orgulhoso dos prestigiosos comentários que se seguiam.


Senti a mesma vergonha que uma criança arteira sente quando é descoberta no silêncio que precede a arte, injustificável, proposital. Repreendido pelo meu adulto, confessei-me culpado e arrependido.


Não cabe ao autor ler ou reler quando o escrito já esta lançado ao mundo. O texto é como um manufaturado de argila, seu artesão, durante o processo criativo, investe suas idéias, que são únicas, moldando , retorcendo, alongando, até que consiga forjar totalmente na massa aquela idéia primária. Depois que a peça sai do forno ela não é mais singular, ela volta a ser maleável, contextualizada, passível de interpretação, estando à mercê da criatividade de todos os olhos que a consumirem.


O texto pós-publicação deixa de ser do autor, passando a ser apenas informação para o leitor formar sua opinião. Não pode o autor tentar extrair algo do texto que ele mesmo criou, consumindo a si próprio para gerar novas idéias.


É preciso abandonar os textos, por maior dor que essa separação provoque, principalmente daqueles cuja dedicação se estende por horas, muitas vezes até dias para ser completado. O afeto e carinho entre criador e criatura é deveras grande e inevitável. O texto é um filho que, como todos os filhos, se cria para o mundo fazer o que quiser dele.


Conformar-me-ei, doravante, em ler apenas os títulos, os textos, todavia, permanecerão incólumes, ilesos a minha leitura autodestrutiva. Pelo menos até que o tempo apague as luzes que nos unem.



[rh.07.01.09.23:58]

ilustração: google imagens.

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