15/01/2009

Antes isso aqui era só mato!


Qualquer campo-grandense com menos de 30 anos já deve ter ouvido essa frase pelo menos umas mil vezes durante a vida. A urbanização da capital sul-mato-grossense acontece em larga escala e se intensificou nos últimos anos. Lugares em que há pouco tempo só tinham sítios e chácaras onde às galinhas até ousavam ciscar pelas ruas, foram engolidos pelo asfalto, loteamentos e prédios.

A única coisa que pouco mudou foram seus habitantes. A cultura intrinsecamente ruralista, forjada pela tradição agropecuária visceralmente presente em todas as nuances do plexo social é um óbice para a plena percepção e materialização do conceito de urbanização na vida das pessoas.

Em outras palavras, aquela típica mentalidade interiorana, bucólica e despreocupada, presente nas cidades pequenas onde todos se conhecem e tudo é perto (e insuficiente), já não tem mais lugar na realidade em que vivemos. Certamente é uma herança dos tempos em que éramos apenas um feudo do reino Cuiabano.

O crescimento da cidade, consequentemente, impôs um ritmo de vida mais acelerado aos seus habitantes, que, além das longas jornadas de trabalho, ainda precisam enfrentar diuturnamente filas e mais filas a fim de prover o cotidiano com as necessidades mais elementares. Exemplo mais notório disso é o fato de que não se faz mais compras em mercadinhos e mercearias, mas em mega-lojas multinacionais onde se encontra de tudo, até borracharias.

O trânsito, que foi sobrecarregado pela entrada de milhares de novos veículos nos últimos anos, todos eles disputando cada centímetro de asfalto, obrigou o redimensionamento do tráfego para proporcionar mais fluidez e segurança. O aumento do número de veículos arrastou consigo outras estatísticas, tais como o aumento da violência, acidentes e de carros roubados.

A expansão horizontal da cidade tornou o transporte público deficiente e tudo mais distante, desencadeando no surgimento natural de novos centros. A região das Moreninhas é apenas um dos vários exemplos desse fenômeno, que já estão espalhados por todo o perímetro municipal, o qual não para de expandir.

Regiões onde há pouco mais de dez anos eram consideradas sem qualquer valor comercial, algumas delas que até serviam como aterro sanitário, reduto de todo o lixo da cidade, hoje estão em alta no mercado imobiliário, a maioria acomodando luxuosos complexos residenciais.

Em Campo Grande você já pode jogar golfe, aprender mandarim e até terceirizar a organização do seu guarda-roupa ou, o desenvolvimento humano do seu quadro de funcionários, se tiver uma empresa. Quem imaginava ter a chance de poder usufruir dessas coisas até pouco tempo?

Interessante é que de cada cinco pessoas com quem converso pelo menos três delas não nasceram aqui, mas vivem e trabalham neste chão, ironicamente, raros são os nativos desta terra por aqui. Acredito que é graças a essa mistura de pessoas, culturas, diferentes tipos de brasileiros (vindos de toda parte) interagindo é que tem contribuído em demasia para a formação de uma identidade própria do povo campo-grandense.

Hoje as galinhas não ousam mais se aproximar das ruas, onde havia mato agora crescem a urbanização e o campo-grandense tenta, com modesto sucesso, acompanhar o mesmo ritmo.


[rh.15.01.09.00:21]

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