Essa frase é o
título de uma reportagem do jornal Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/05/1271563-apoio-ao-regime-democratico-tem-ligeira-queda-aponta-datafolha.shtml), é de uma leviandade tão grotesca que me causa ânsia. Sem
dúvidas, a verve do suprassumo do que a há de mais podre.
Ela diz, como se
o regime democrático carecesse de apoio, como se fosse uma mera opção que se
sustenta sobre as outras apenas por ter, até o momento - talvez por sorte ou
bom trabalho publicitário - o apoio de uma maioria que não tem certeza do que
quer.
O autor do título, sutilmente, aborda o tema como se não
estivesse gravada nas páginas da Constituição Federal do Brasil – chamada de
Constituição Cidadã, ou Popular – a sua consolidada e irrevogável implantação
perpétua; como se ela corresse o risco de ser, a qualquer momento, deturpada
por bárbaros marxistas, ou coberta com tinta cor verde-oliva por militares
herdeiros do ranço ditatorial do século XX - que arquitetam secretamente dentro
dos paióis um novo golpe, pior que o anterior, pois desta vez regado à vingança.
Diz o título,
ainda, que a democracia esta em decadência, pois uma fração já deixou de dar
apoio, ela já não é tão forte e não se mostra mais tão útil quanto antes, na
opinião desses que mudaram de ideia; que a democracia já foi melhor, e já não é
digna de apoio, voltemos ao status quo.
O título trata a
democracia como se fosse uma coisa trivial, como se não fosse algo importante
para a nação, como se não fizesse diferença nas vidas do brasileiro:
- Democracia?
Ah, só pra no dia das eleições ir votar no menos ladrão, ou no que me pagar uma
tanqueada de combustível.
E a parte mais
triste: um jornal como a Folha publicar tal escarnio – tudo bem, nós sabemos
que eles nunca foram confiáveis, mas dessa vez passaram dos limites. Se
pensarmos o quanto a imprensa foi achincalhada pela ditadura, inevitável o
arrepio cadavérico que só o sentimento de traição é capaz de provocar. Pensar
na quantidade de pessoas que morreram para que, trinta anos depois, mercenários
disfarçados de jornalistas pudessem escrever isso, só faz aumentar a minha
descrença.
Escrevi este
texto ouvindo Nome aos Bois, clássico dos Titãs (ouça: http://www.youtube.com/watch?v=mNqig2w5iQ0) que, mais de 20 anos após ter sido escrita, continua atual; e os
bois não param de aumentar.
[RH.05.05.2013.22:08]
Fontes:
Nenhum comentário:
Postar um comentário