13/05/2013

“Apoio ao regime democrático tem ligeira queda”





Essa frase é o título de uma reportagem do jornal Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/05/1271563-apoio-ao-regime-democratico-tem-ligeira-queda-aponta-datafolha.shtml), é de uma leviandade tão grotesca que me causa ânsia. Sem dúvidas, a verve do suprassumo do que a há de mais podre.

Ela diz, como se o regime democrático carecesse de apoio, como se fosse uma mera opção que se sustenta sobre as outras apenas por ter, até o momento - talvez por sorte ou bom trabalho publicitário - o apoio de uma maioria que não tem certeza do que quer.

O autor do título, sutilmente, aborda o tema como se não estivesse gravada nas páginas da Constituição Federal do Brasil – chamada de Constituição Cidadã, ou Popular – a sua consolidada e irrevogável implantação perpétua; como se ela corresse o risco de ser, a qualquer momento, deturpada por bárbaros marxistas, ou coberta com tinta cor verde-oliva por militares herdeiros do ranço ditatorial do século XX - que arquitetam secretamente dentro dos paióis um novo golpe, pior que o anterior, pois desta vez regado à vingança.

Diz o título, ainda, que a democracia esta em decadência, pois uma fração já deixou de dar apoio, ela já não é tão forte e não se mostra mais tão útil quanto antes, na opinião desses que mudaram de ideia; que a democracia já foi melhor, e já não é digna de apoio, voltemos ao status quo.

O título trata a democracia como se fosse uma coisa trivial, como se não fosse algo importante para a nação, como se não fizesse diferença nas vidas do brasileiro:

- Democracia? Ah, só pra no dia das eleições ir votar no menos ladrão, ou no que me pagar uma tanqueada de combustível.

E a parte mais triste: um jornal como a Folha publicar tal escarnio – tudo bem, nós sabemos que eles nunca foram confiáveis, mas dessa vez passaram dos limites. Se pensarmos o quanto a imprensa foi achincalhada pela ditadura, inevitável o arrepio cadavérico que só o sentimento de traição é capaz de provocar. Pensar na quantidade de pessoas que morreram para que, trinta anos depois, mercenários disfarçados de jornalistas pudessem escrever isso, só faz aumentar a minha descrença.

Escrevi este texto ouvindo Nome aos Bois, clássico dos Titãs (ouça: http://www.youtube.com/watch?v=mNqig2w5iQ0) que, mais de 20 anos após ter sido escrita, continua atual; e os bois não param de aumentar.

[RH.05.05.2013.22:08]

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