17/02/2013

A Lenda dos Olhos de Pérola


A lenda  é a de que a Noite morria de curiosidade para saber o que acontecia durante o dia.  O que era impossível, pois o Sol jamais permitia que ela ficasse para encontrar pessoalmente o Dia, de quem ela só ouvia falar desde a infância. Se nem mesmo a Dona Lua tinha o conhecido - se não apenas avistado de longe, por entre as nuvens – que dirá a jovem Noite.

Mas como toda moça que se prese, ela não se contentou, e começou a pensar num jeito de conhecer o Dia. Conversou com a Aurora Boreau, as Estrelas, o Vento, as Nuvens... mas todos disseram que não poderiam ajudar, pois era impossível o que ela queria.

Triste pelo fracasso, Noite começou a chorar e a se lamentar;  Oceano, sentindo as lágrimas sobre suas costas, veio saber o que se passava. Noite se desculpou pelo incômodo causado, e disse que queria muito conhecer o moço chamado Dia, mas todos diziam que era impossível. Comovido com a inocência da pobre garota, esse velho de águas, que tudo sabe e a todos conhece, sorriu, dizendo que tinha uma surpresa para ela. Começou a se agitar em ondas gigantes, até que emergiram de suas profundezas duas pérolas cristalinas, que refletiam a luz da Lua como espelhos, iluminando tudo a sua volta, como se tivessem vida própria.

 Disse então o Oceano à pequena Noite para que assumisse uma forma discreta, silenciosa e ágil, e que colocasse em seus olhos as pérolas, assim, toda vez que o Sol olhasse para ela, veria apenas sua própria luz refletida nas joias e não desconfiaria de que era a Noite disfarçada. Mesmo assim, tudo isso serviria apenas para saber como é o Dia, não poderia conversar com ele, se não o disfarce ficaria comprometido.

Atônita, Noite vibrava de alegria, e sabia exatamente a quem procurar. Dirigiu-se até a Sombra, elemento que, assim como o Oceano e as Nuvens, convivia bem com o Sol e o Dia, pois era flexível, ajustava-se facilmente a todas as coisas, e nunca deixava de estar presente, onde quer que fosse. Noite repetiu as mesmas características ditas pelo Oceano: forma discreta, silenciosa e ágil. Sem demora, Sombra recortou em sua silhueta um animal pequeno e alongado, e com movimentos elegantes. Pérolas colocadas sobre os olhos, e tudo estava pronto, era só esperar o Sol chegar, trazendo Dia em seus raios.

Desde então, durante todas as alvoradas, Noite pega sua sombra especial e suas pérolas e passa com o Dia, espreitando-o e rindo do Sol.


[rh.17.02.2013.23:25]

imagem: google imagens

2 comentários:

  1. Adoro prosa poética e esse seu texto é um ótimo exemplar do gênero. Parabéns pela inventividade e lirismo dos seus textos, Rh! :-)

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