A lenda é a de que a Noite morria de curiosidade para
saber o que acontecia durante o dia. O
que era impossível, pois o Sol jamais permitia que ela ficasse para encontrar
pessoalmente o Dia, de quem ela só ouvia falar desde a infância. Se nem mesmo a
Dona Lua tinha o conhecido - se não apenas avistado de longe, por entre as
nuvens – que dirá a jovem Noite.
Mas como toda moça que se prese,
ela não se contentou, e começou a pensar num jeito de conhecer o Dia. Conversou
com a Aurora Boreau, as Estrelas, o Vento, as Nuvens... mas todos disseram que
não poderiam ajudar, pois era impossível o que ela queria.
Triste pelo fracasso, Noite
começou a chorar e a se lamentar; Oceano,
sentindo as lágrimas sobre suas costas, veio saber o que se passava. Noite se
desculpou pelo incômodo causado, e disse que queria muito conhecer o moço chamado
Dia, mas todos diziam que era impossível. Comovido com a inocência da pobre garota,
esse velho de águas, que tudo sabe e a todos conhece, sorriu, dizendo que tinha
uma surpresa para ela. Começou a se agitar em ondas gigantes, até que emergiram
de suas profundezas duas pérolas cristalinas, que refletiam a luz da Lua como espelhos, iluminando tudo a sua volta, como se tivessem vida própria.
Disse então o Oceano à pequena Noite para que
assumisse uma forma discreta, silenciosa e ágil, e que colocasse em seus olhos as
pérolas, assim, toda vez que o Sol olhasse para ela, veria apenas sua própria luz
refletida nas joias e não desconfiaria de que era a Noite disfarçada. Mesmo
assim, tudo isso serviria apenas para saber como é o Dia, não poderia conversar
com ele, se não o disfarce ficaria comprometido.
Atônita, Noite vibrava de
alegria, e sabia exatamente a quem procurar. Dirigiu-se até a Sombra, elemento
que, assim como o Oceano e as Nuvens, convivia bem com o Sol e o Dia, pois era flexível,
ajustava-se facilmente a todas as coisas, e nunca deixava de estar presente,
onde quer que fosse. Noite repetiu as mesmas características ditas pelo Oceano:
forma discreta, silenciosa e ágil. Sem demora, Sombra recortou em sua silhueta
um animal pequeno e alongado, e com movimentos elegantes.
Pérolas colocadas sobre os olhos, e tudo estava pronto, era só esperar o Sol
chegar, trazendo Dia em seus raios.
Desde então, durante todas as alvoradas,
Noite pega sua sombra especial e suas pérolas e passa com o Dia, espreitando-o
e rindo do Sol.
[rh.17.02.2013.23:25]
imagem: google imagens
Adoro prosa poética e esse seu texto é um ótimo exemplar do gênero. Parabéns pela inventividade e lirismo dos seus textos, Rh! :-)
ResponderExcluirobrigado, velho amigo!
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