08/09/2013

tutorial para pessoas que têm espelho no banheiro


O meu maior desejo de todos
É o de que todas as pessoas sejam felizes
Todas elas
Merecedoras e não merecedoras
Honestas e desonestas
Amigas e inimigas
Bebes crianças jovens velhos anciãos
Inteligentes, nazistas, tímidos, índios, drogados, bombeiros, capricornianos, canhotos, gays, homens-bombas, argentinos, padres, bebedores de Fanta Uva, professoras de balé...
Sabe por quê?
Porque gente feliz não enche o saco
Gente feliz não faz picuinha
Gente feliz não cuida da vida alheia
Não sente inveja da alegria dos outros, porque tem a própria alegria
Gente feliz não fica pensando maldades
Gente feliz é mais sadia
Gente feliz não tem depressão
Porque gente feliz é otimista, otimistas alcançam o sucesso facilmente, pessoas de sucesso motivam outras pessoas a serem iguais a ela
Gente feliz faz gente feliz
E lembre-se: Ser feliz não é fingir alegria, sorrisão de plástico colado na cara, comediante por esporte E por dentro, tudo em ruína. 
É assim que a indústria quer que você se comporte: um ator fracassado da própria vida. Fracassados consomem mais.
Seja verdadeiramente feliz, tranque-se no banheiro e pergunte em voz alta para o cara do espelho o que faz ele feliz.
E se, por acaso, a única resposta que obtiver for 'dinheiro', é porque você ainda precisa aprender umas coisinhas antes de continuar este diálogo
Alguns, infelizmente, não aprenderão... Paciência. Não se pode ter tudo na vida
Mas se a dor for grande demais
Jamais fique muito tempo parado diante dela
Vá contornando, devagarzinho
Outros caminhos certamente aparecerão

[rh.08.09.2013.18:42]

imagem: google imagens

03/06/2013

Um homem bom



Nunca fiz nada que maculasse minha imagem de homem bom, sério, religioso e respeitador. Referência de moralidade e conduta. Exemplo de marido, pai de família, e profissional respeitadíssimo. Mas hoje eu estou a fim é de causar confusão, sabe...?  tempestade em copo d’água. Barraco gratuito. Começando por escarrar no chão alheio, na frente do alheio, e andar por aí com um palito de dente no canto da boca. Pensei em ligar para certas pessoas que precisam ouvir algumas verdades, mandar elas pra puta que pariu, mesmo. Pensei em enviar e-mails bombásticos que destruiriam pra sempre relações. Publicar no  Facebook todos os segredos que sei sobre os outros, só pra ver a merda acontecer e se multiplicar como um vírus. Estou com a chave do carro na mão, pronto pra sair por aí xingando, a plenos pulmões, todos os malditos rodas-presas que só fazem aumentar as minhas chances de vir a desenvolver um câncer de raiva. Dirigir rápido e perigosamente. Jogar extintor nas putas e latas de cerveja nos mendigos. Estacionar em local proibido, distribuir cantadas vulgares só pra ver a cara de nojo das garotas, e ainda meter a mão no rabo delas quando se afastarem. Ser escroto com o garçom. Falar bem alto, ocupar bastante espaço e fumar o cigarro mais fedido... não, um charuto, sim, bem mais fumacento. Para que todos ao redor sintam repulsa, e se eu tiver sorte, um deles venha reclamar para que eu tenha o prazer de quebrar a cara do infeliz.  Quem sabe até dar uns tiros, matar alguém num momento de absoluta raiva deve ser uma sensação ótima...ver o fogo no cano, sangue no chão, pavor nos rostos, e a morte nos olhos. A sensação de controle, ser temido, intocável. Deixar meus instintos mais primitivos me guiarem num caminho raivoso sem volta. Fazer tudo que há de mais indigno, grotesco, desumano, e abominável. E, no fim de tudo, desacatar o policial, resistir a prisão e dizer apenas foda-se pra todos. Ainda bem que tenho pó suficiente pra entupir meu nariz por hoje. Felizmente a sociedade esta a salvo por mais um dia. Além do mais, ninguém iria querer perder a referência da minha imagem tão digna.

[rh.03.06.13.17:48]

imagem: google imagens


mensagem institucional: 

isso que você acabou de ler é um Conto, 
ou seja, uma ficção, 
ou seja, não expressa a opinião do autor.

Equipe ricardiando.blogspot 



26/05/2013

BICABONATO



As vezes eu queria ser o Cebolinha... é, aquele mesmo da Turma da Mônica. Apesar do complexo que ele deve ter por causa de seu problema de pronúncia errada, nem tudo é desgraça. Certamente ele não teria problemas em saber em qual das “...xítonas” a letra ‘r’ entra nessa maldita palavra bicabonato. Não bastasse ela ser um termo foneticamente horrível - uma junção bizarra de sílabas que não combinam - ainda meteram um ‘r’ pra foder de vez com tudo.

Eu não tenho vergonha nenhuma em dizer que preciso pensar (muito) antes de pronunciar essa coisa esdrúxula – mentira, eu tenho vergonha, sim. Palavrinha ridícula, cara. Pra minha sorte, eu estudei Direito, e bicabonato não esta no rol de palavras do meu cotidiano. Mas imaginem se tivesse feito o curso de Química ou Farmácia... estaria na merda, com certeza.

- diga rápido!
- Bicãbo... não,  bicaborn... não, não, digo... bicarbonato?... isso! é... ah, acho que é isso.

E a vergonha própria (pela burrice) e a alheia (das poucas pessoas que me achavam um cara inteligente) ?  Lamento. Pra minimizar o meu sofrimento desafio você a dizer três vezes, bem rápido: “TRÊS PRATOS DE BICARBONATO PARA TRÊS TIGRES TRISTES”.

Quem sabe agora eu não aprendo de uma vez por todas que o ‘R’ é depois do ‘CA’... BI-CAR-BO-NA-TO. Ou é isso, ou terei que viver sem ele pelo resto da vida. Estou mais inclinado pela segunda opção.

[RH.26.05.2013.18:25]


13/05/2013

“Apoio ao regime democrático tem ligeira queda”





Essa frase é o título de uma reportagem do jornal Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/05/1271563-apoio-ao-regime-democratico-tem-ligeira-queda-aponta-datafolha.shtml), é de uma leviandade tão grotesca que me causa ânsia. Sem dúvidas, a verve do suprassumo do que a há de mais podre.

Ela diz, como se o regime democrático carecesse de apoio, como se fosse uma mera opção que se sustenta sobre as outras apenas por ter, até o momento - talvez por sorte ou bom trabalho publicitário - o apoio de uma maioria que não tem certeza do que quer.

O autor do título, sutilmente, aborda o tema como se não estivesse gravada nas páginas da Constituição Federal do Brasil – chamada de Constituição Cidadã, ou Popular – a sua consolidada e irrevogável implantação perpétua; como se ela corresse o risco de ser, a qualquer momento, deturpada por bárbaros marxistas, ou coberta com tinta cor verde-oliva por militares herdeiros do ranço ditatorial do século XX - que arquitetam secretamente dentro dos paióis um novo golpe, pior que o anterior, pois desta vez regado à vingança.

Diz o título, ainda, que a democracia esta em decadência, pois uma fração já deixou de dar apoio, ela já não é tão forte e não se mostra mais tão útil quanto antes, na opinião desses que mudaram de ideia; que a democracia já foi melhor, e já não é digna de apoio, voltemos ao status quo.

O título trata a democracia como se fosse uma coisa trivial, como se não fosse algo importante para a nação, como se não fizesse diferença nas vidas do brasileiro:

- Democracia? Ah, só pra no dia das eleições ir votar no menos ladrão, ou no que me pagar uma tanqueada de combustível.

E a parte mais triste: um jornal como a Folha publicar tal escarnio – tudo bem, nós sabemos que eles nunca foram confiáveis, mas dessa vez passaram dos limites. Se pensarmos o quanto a imprensa foi achincalhada pela ditadura, inevitável o arrepio cadavérico que só o sentimento de traição é capaz de provocar. Pensar na quantidade de pessoas que morreram para que, trinta anos depois, mercenários disfarçados de jornalistas pudessem escrever isso, só faz aumentar a minha descrença.

Escrevi este texto ouvindo Nome aos Bois, clássico dos Titãs (ouça: http://www.youtube.com/watch?v=mNqig2w5iQ0) que, mais de 20 anos após ter sido escrita, continua atual; e os bois não param de aumentar.

[RH.05.05.2013.22:08]

 Fontes:



09/05/2013

indicação de filme: "Isto Não é Um Filme"



Já estava deitado pronto pra dormir quando, na última zapiada pelos canais da TV, me deparei com este filme - melhor dizendo:  “não filme” - que acabará de iniciar no Telecine Cult. Depois de ler a sinopse não consegui mais desgrudar os olhos.

“Isto não é um Filme” não é apenas um título propositadamente criado para despertar a curiosidade e tudo que ela traz consigo. Na verdade, de fato não é um filme, nem documentário, nem clip, nem uma estória contada... esse registro cinematográfico não se encaixa em nenhum formato que caiba classificação.

O protagonista é Jafar Panahi, cineasta iraniano condenado pelo Estado a - além da prisão -  ficar por 20 anos proibido de  escrever roteiros e dirigir filmes. De dentro de seu apartamento, onde aguarda o resultado do recurso de apelação para tentar reduzir sua pena, ele inicia filmagens precárias registrando sua própria angustia.

Empunhando o roteiro para o último filme que pretendia gravar - e já se vê impedido - ele começa a descrever com maestria as cenas do que seria o filme, quadro a quadro. Para cinéfilos de plantão, uma verdadeira mini aula.

Impressionante como ele consegue retratar a sofrida realidade dos iranianos, utilizando-se de coadjuvantes da vida real - dos quais alguns se quer chegam a aparecer. Tudo retratado apenas da micro atmosfera do condomínio onde mora. 

O “não filme” é de uma delicadeza e sensibilidade única, e faz quem assiste ingerir um montão de sentimentos ruins, todos eles com sabor de indignação.

Indignação por saber do que teocracias são capazes de fazer para manter o povo na absoluta ignorância, pois uma nação que não pensa não questiona, e é bem mais simples e conveniente governar nessas condições.

Engraçado que eu escrevi isso com a mesma pretensão de quem tem convicção de que coisas desse tipo jamais acontecem em outros regimes de governo, né? Quem dera...

Para o Irã, Panahi era uma ameaça, já não é mais.

Quase 02h da madrugada... eu ainda tentava digerir tudo isso.

[RH.09.05.13.23:25]

Leia sobre o caso: http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/justica-iraniana-confirma-condenacao-de-cineasta-a-6-anos-de-prisao/n1597281424503.html

PS: Não encontrei a íntegra do filme, apenas um resumo, mas continuarei tentarei. Quem puder assistir, eu recomendo.

05/05/2013

Não é disso que eu estou falando...



Este texto demorou um bocado pra ser escrito, pois já sou fã deles há muito tempo, e não tem nada relacionado a essa foto ilustrativa, lógico.

Ela é Badi Assad, cantora brasileira de sorriso cativante, voz sedosa, violonista primorosa, única beatbox da MPB, com uma habilidade incrível de produzir sons utilizando apenas o próprio corpo. Acho que nem Hermeto Pascoal conseguiu extrair sons do próprio corpo, e olha que ele extraiu sons de tudo que era possível (e impossível).

Ele, André Abujamra, compositor, multinstrumentista,  cantor e ator, membro de duas das melhores bandas deste país: Os Mulheres Negras e Karnak. Dotado de uma inventividade que permite transformar em arte coisas aparentemente banais e sem valor, como por exemplo o próprio curruculum (http://www.youtube.com/watch?v=4Xul_oCLtxU).

Em comum eles têm a incrível habilidade de produzir universos sonoros que inviabilizam o encaixotamento de suas obras no estilo musical A ou B... Algo semelhante ao que acontece com minha ídolo islandesa,  Bjork. É nítido que eles descartam totalmente os modelos e padrões convencionais, e se arriscam, criando formas, misturando ritmos, batucando as bochechas, experimentando instrumentos...  

Outro aspecto em comum é o fato de terem sido reconhecidos mundialmente por seus trabalhos, e só ganharam algum prestígio no Brasil tempos depois. Aqui na Província em que vivemos é assim, só se valoriza aquilo que os gringos dizem que é bom. E se acham que estou exagerando, perguntem ao David Byrne, que tirou o inigualável Tom Zé - ignorantemente classificado como tropicalista - de mais de 20 anos de ostracismo. Obrigado David!

[rh.05.05.13.21:32]

E vamos ao que interessa, aí vão algumas amostras:

Badi Assad:

André Abujamra:




24/04/2013

Decepcionando Bukowski



A vida é um esgoto
Escura e fétida
o nojo de tocar nas paredes é inevitável
Todas as direções parecem levar a um lugar pior
Seguir em frente apenas para não deixar os vermes subirem pelas botas
Bebo até não mais sentir o odor do chorume que molha as roupas
Avançando pelas galerias de água podre
As vezes pra cima, até a luz do sol e o lixo da superfície entrarem bueiro adentro  e  encherem minha boca de ânsia
As vezes pro fundo, mais pra perto dos ratos
Os ratos pelo menos são honestos, querem me roubar e não tentam fingir que não querem
Faço obscenidades para espantá-los, escarro na cara deles
Mas eles já não se importam mais
Roem meus tornozelos necrosados
E lambem minha boca enquanto durmo
Mas quando eu for apenas uma carcaça podre e sem vida
Só os vermes me acolherão